QUESTÕES GERAIS
É surpreendente notar, nos dias
de verão, como quase não se vêem barcos no rio depois do pôr do sol
[N.T.: o autor se refere ao Rio da Prata, entre a Argentina e o Uruguai].
Navegar de noite é uma experiência muito interessante, e que não envolve
maiores riscos, se observarmos alguns aspectos importantes.
A primeira limitação que enfrentamos durante a navegação noturna, na hora
de identificar as luzes de uma bóia, baliza, farol ou a entrada do porto,
é a falta de prática, pois a maioria das navegações que realizamos ocorre
durante o dia.
Se navegarmos de noite, em zonas habituais, que conhecemos bem, não teremos
maiores dificuldades para reconhecer a costa e seus acidentes principais,
porque já memorizamos a geografia da zona. A coisa muda de figura quando
navegamos em uma zona pouco conhecida, porque devemos somar à incerteza
de nos situarmos na carta e de reconhecermos o ponto exato da costa
que estamos observando, a intranqüilidade provocada pela limitação da
visibilidade, por causa da escuridão, que pode produzir uma falta de
confiança que nos fará duvidar de nossas próprias apreciações.
Há três fatores básicos para navegar de noite com segurança.
1)
Atenção: Devemos prestar muita atenção, visto que a visibilidade é muito
reduzida, e isso nos obriga a estar muito pendentes de encontrar luzes,
reconhecer a linha da costa, e antecipar objetos que não estiverem iluminados,
como bóias cegas, troncos, etc.
2)
Segurança: Quanto à nossa posição, é muito importante tirar uma correta
marcação, a fim de nos posicionarmos corretamente na carta.
3)
Prática: Isto é muito importante, pois quanto mais navegações noturnas
realizarmos, mais hábeis nos faremos para distinguir luzes, entradas,
etc.
Um problema muito comum, no momento de entrar em um porto durante a noite,
é que, geralmente, ele fica perto ou no meio de uma cidade. Esta localização
faz com que seja muito difícil distinguir as luzes de balizas, faróis
e bóias, pois elas se confundem com as luzes da cidade. Neste caso,
é muito importante apoiarmo-nos em cartas e roteiros atualizados, com
os quais buscaremos identificar a costa , a entrada do porto, sua localização
com relação à cidade e a localização de perigos na zona.
Muitas vezes sucederá que não avistaremos as luzes das balizas até estarmos
muito perto delas, e é por isso que não tentaremos arribar de noite
com mal tempo, porquanto é muito provável que, se nos equivocarmos,
não teremos uma segunda chance, e terminaremos encalhados ou abalroando
algum escolho. Sempre que entrarmos em um porto pela primeira vez, programaremos
nossa navegação para chegar nele durante o dia, já que arribar de noite
pode ser difícil. Pelas mesmas razões que comentamos acima, não tentaremos
entrar em um porto durante a noite e com mal tempo, a não ser que a
entrada seja fácil, esteja a barlavento e que já tenhamos entrado nele
antes.
Devemos lembrar que no sistema de bóias IALA “B”, entrando no porto, teremos
a baliza encarnada à direita (“deixada por boreste - BE – por quem entra
no porto”) e a verde à esquerda (por bombordo - BB - de quem entra).
Se estamos vendo ao contrário, isso indica que estamos indo rumo ao
molhe ou ao cais, com um triste final, se não modificarmos o rumo.
Alguns portos do Uruguai que apresentam particularidades no tocante às
luzes:
SAN JUAN: Não tem uma cidade ao fundo, mas a linha de aproamento
à bóia de arrimação (Bremen) e a baliza em terra não marcam o caminho
de acesso, visto que este segue uma linha de pequenas bóias cegas que
são muito difíceis de identificar durante a noite.
COLONIA: O farol está colocado acima da cidade e tem luz vermelha, o que o torna
difícil de ser identificado e visualizado, porque é uma luz muito fraca
que se confunde com outras luzes da cidade. O porto de recreio só tem
a baliza encarnada (Santa Rita), não tendo a verde. Além disso, a cidade
ao fundo dificulta sua visualização.
RIACHUELO: Não tem nenhuma cidade ao fundo, mas tem dois molhes,
um deles mais curto do que o outro uns 50 m, o que provoca que se nos
aproximamos vindos do Este, parece que as luzes estão invertidas, a
verde a BE (boreste) e a encarnada a BB (bombordo). Só quando chegamos
à bóia de arrimação e aproamos com a baliza em terra (tapada pelas árvores),
se vêem corretamente: a verde a BB e a encarnada a BE.
SAUCE: A arrimação ao porto se faz através de um longo molhe que está paralelo
à costa e tem a cidade ao fundo. Isto faz com que seja muito difícil
identificar a baliza encarnada que está no seu extremo. A baliza verde
está no outro molhe, que fica muito mais para dentro do porto, e que,
aproximando-nos de fora, é difícil de ver.
BUCEO, PIRIÁPOLIS E PUNTA DEL ESTE: Todos estes portos têm a cidade
ao fundo, o que dificulta a visualização das luzes das balizas, pois
estas se confundem com outras em terra.
LA PALOMA: A entrada do porto fica a uma milha a NE do farol,
um pouco distante do conjunto urbano. Há somente uma baliza verde (Bal.
María Magdalena)
(de qualquer forma, recomendamos
consultar os Roteiros, nos quais são explicadas as entradas destes
portos)
RECONHECIMENTO DE
FARÓIS:
Pode
acontecer que, durante uma navegação, sejamos obrigados a reconhecer
algum farol, seja o de destino ou um de passagem. Todos os faróis e
outras luzes marítimas relevantes para a navegação se encontram compiladas
na Lista de Faros y Señales Marítimas (Lista
de Faróis e Sinais Marítimos), que se divide em três tomos:
1) H-211 Río de la Plata (Rio
da Prata)
2) H-212 Costa Atlántica (desde Cabo San Antonio a Cabo Vírgenes y Punta
Dungeness)
3) H-213 Tierra del Fuego, Estrecho
de Magallanes, Canales e islas adyacentes, Islas Malvinas y Antártida
Argentina.
Nestes livros estão indicadas suas características, ritmo de luz, alcance,
etc. É importante que estes dados estejam sempre atualizados. Também
nas cartas podemos encontrar esta informação, inclusive em forma gráfica.
Procedimento para reconhecer um farol:
1)
Se virmos uma luz no meio da escuridão, verificaremos primeiro se é uma
luz móvel, pois, sendo assim, seguramente é a de algum barco.
2)
Se a luz for intermitente, comprovaremos se tem um ritmo determinado e
que este não é devido às ondas, que muitas vezes podem ocultar de nossa
visão, momentaneamente, o feixe de luz.
3)
Mediante as cartas ou roteiros, veremos quais são os faróis que estão
na zona em que navegamos, e quais são as suas características.
4)
Com nossa posição estimada, o alcance indicado pela carta, e o ritmo de
luz avistado, podemos identificar o farol com bastante precisão.
5)
É muito importante que não mudemos nunca de rumo para tentar localizá-la,
se não localizarmos a luz do farol, mesmo quando acharmos que teríamos
que estar vendo a luz, e apesar de encontrarmo-nos dentro de seu alcance
teórico e no rumo correto. Fatores como neblina na costa, ondas ou má
visibilidade, podem fazer com que não a vejamos até estarmos a poucas
milhas de distância.
O G.P.S. É A SOLUÇÃO ?
Sem
dúvida que o aparecimento do GPS significou uma grande ajuda para a
navegação, dado que nos permite situarmo-nos com bastante precisão,
sem necessidade de complicados cálculos.
Dada a facilidade de orientarmo-nos na carta, graças às coordenadas obtidas,
é normal que terminemos confiando cegamente no GPS para a navegação,
principalmente para a noturna.
Entretanto, não podemos deixar de destacar que o GPS, mesmo sendo uma
ajuda inestimável, não pode, de nenhuma forma,
substituir totalmente as cartas tradicionais e os dados obtidos
pelos diversos auxílios à navegação. Não convém entregar totalmente
nossa segurança ao GPS, pois seu funcionamento depende de fatores como
o fornecimento de energia elétrica, o capricho dos proprietários da
rede de satélites, o governo americano, etc.
Também devemos considerar que a posição que o navegador satelital fornece
não é exata, já que tem incorporado um erro que pode ser de 100 metros
ou mais. Mas, sobretudo, temos que lembrar que, mesmo que o GPS nos
ajude a situarmo-nos em um ponto mais ou menos exato, o trabalho de
distinguir as luzes do porto ou de reconhecer um farol continuará sendo
nosso.
ALGUMAS DICAS:
Estes são alguns conselhos que podem ajudar na hora individualizar luzes.
Mas lembre-se que a prática será a melhor ajuda.
- Para localizar
um farol, uma baliza ou bóia, em uma zona da escuridão na qual achamos que
deveria ser vista, pelo alcance nominal da luz e nossa marcação, dividiremos
mentalmente a escuridão em setores, que rastejaremos minuciosa e continuamente,
sem saltear.
- Devemos evitar
a obsessão de ver uma luz em um lugar específico. Às vezes, a escuridão
nos engana e acabamos vendo o que queremos ver, e não o que existe
realmente.
- Para determinar
o ritmo de lampejos ou ocultações de um sinal marítimo, será muito
útil um cronômetro. Porém, se isto não for possível por não dispormos
de um a bordo, ou pela falta de luz, podemos contar os segundos entre
os lampejos, mentalmente, mediante um simples método: temos que contar
“um-um, dois-um, três-um, quatro-um...”. Desta forma, não aceleramos
a conta inconscientemente, e os segundos são mais ou menos corretos.
- É importante
manter a vista fixa em cada lugar concreto durante vários segundos,
dado que as ondas podem ocultar, periodicamente, qualquer feixe de
luz.
- Quando tivermos
que diferenciar as luzes da cidade das do porto, é importante saber
que as do porto se encontram um pouco afastadas da costa e, portanto,
não estão à mesma distância que as da cidade. Isto significa que,
ao navegarmos paralelos à costa, a posição dos faróis ou balizas de
entrada variará com relação às outras (as da cidade) com maior velocidade,
o que nos permitirá diferenciá-las.
- Qualquer luz
a bordo pode distrair nossa atenção ou acentuará a escuridão do horizonte,
devido ao contraste. É recomendável apagar todas as luzes do interior
e baixar ao mínimo as dos instrumentos, se estivermos tentando identificar
algum farol, baliza ou bóia.
- Uma boa dica
para acostumar nossos olhos à escuridão, consiste em fechá-los durante
3 / 4 minutos, antes de olhar a zona que nos interessa.
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